Eu não sei se vocês concordam comigo, mas a minha geração tem um problema... vá não é só um, são vários! Mas pronto, vim falar-vos de um em particular.
Eu desde de que me lembro que tenho a ilusão de que sou especial e vou alcançar grandes coisas na minha vida... e vocês dizem “mas Shi, tu podes alcançar grandes coisas na tua vida! Basta quereres e lutar por isso”. Sim essa conversa é toda muito bonita, mas nem toda a gente está destinada para ser alguém na vida, quando digo isto de ser alguém na vida, digo pelo estereótipo de chegar ao topo de uma carreira e ganhar muito dinheiro. A maioria das pessoas para chegar a um patamar desses, ou é muito bom naquilo que faz ou simplesmente conseguiu de maneira menos honesta. Mas o facto, é que grande parte de nós não é especial e se não metermos os pés no chão, existe uma probabilidade de acabarmos por sofrer uma depressão.
Esta conversa toda é para quê? Ora eu tive de deixar de achar que era especial, que ia ser descoberta por uma empresa e ia ser uma grande designer ou um grande técnica de multimédia para me aperceber que comer faz falta, pagar as contas faz falta e a minha independência também fazia falta e decidi tentar uma profissão que muitos não consideram tão boa, tão digna. Afinal de contas a maioria das pessoas não sonha ser empregado do lixo, empregado de mesa, operador fabril ou trabalhar num call-center. Mas o facto é que estes empregos têm de existir e se todos tivéssemos grandes ambições e nos limitássemos a elas, não haveriam sequer empregos de atendimento ao público. A nossa sociedade não iria funcionar. Portanto essas profissões que consideramos menos dignas, são necessárias.
Quando decidi que precisava de um emprego para ganhar dinheiro, fosse qual fosse. Encontrei a oportunidade de ser empregada de mesa de um restaurante muito grande e famoso e aqui a miss ingenuidade, acreditava que ser empregada de mesa não tinha ciência nenhuma, que era uma coisa tão fácil como tirar o pedido, pedir o pedido e entregar o pedido na mesa. Mas não... ser empregado de mesa de facto é algo muito mais desafiante do que parece e requer mais força física e psicológica do que muitas pessoas pensam.
Havia dias em que tínhamos os turnos todos cheios e ainda tínhamos pessoas à fila e acontecia um problema na cozinha e estava tudo desgraçado, havia dias em que tinha de ficar na explanada, com uma farda de manga comprida num sol de 40 graus, e ter pessoas rabugentas por causa do calor e porque por algum motivo a comida não estava a sair à velocidade que eles achavam aceitável. Ser empregada de mesa é se saco de pancada, é dar a cara por quase tudo o que possa correr mal num restaurante e essas coisas de facto acontecem e nós temos de manter um sorriso na cara e tentar agilizar, para tentar manter as 20 e tal pessoas que tens no teu turno.
Apesar disto tudo eu gostei muito de trabalhar como empregada de mesa, de tal modo que cheguei a pensar que se realmente nunca conseguisse um trabalho na minha área, que poderia trabalhar nisto para o resto da vida. Os meus colegas eram fantásticos e a chefia também não ficava atrás. Havia alguns clientes habituais que eram fantásticos e outros que nem tanto... e isto durante muito tempo chegou-me para ir motivada para o trabalho. Mas depois de um ano e tal a viver esta rotina de loucos, o meu corpo começou a dar de si e depois do corpo veio a mente.
Trabalhar num restaurante implica muitas vezes fazer horários repartidos... Eu sinceramente acho que devia ser ilegal fazer horários repartidos. Onde eu trabalhava havia horário de abertura, horário repartido e horário de fecho e nós por média fazíamos uma abertura, um fecho e 3 repartidos e isto para muitos sítios onde só se tem horários repartidos era muito bom. Um restaurante poderia viver bem de horários seguidos, mas de facto se um empregador consegue-nos manter no restaurante só à hora das refeições, conseguem poupar bastante no número de empregados que precisam de contratar, mas sei por experiência que se os restaurantes só tivessem horários seguidos, não haveria falta de pessoas na restauração como há.
Para terem noção eu saia de casa pelas 10h e muitas vezes só regressava a casa pelas 2h00, isto tudo graças ao horários repartidos. Tinha pausas gigantescas à tarde e não conseguia vir a casa ou fazer nada de produtivo durante esse tempo porque estava longe de casa e se viesse cá era só o tempo dos transportes e ainda voltava mais cansada. Chegou a uma altura em que as vezes tinha de optar entre tomar banho ou dormir mais um bocadinho. Até que comecei a ter crises de ansiedade no trabalho, comecei a não aguentar a pressão. Um dia acordei e estava a ver tudo desfocado... tive o dia todo sem ver uma porra à frente e foi assim que tive de admitir que tinha chegado ao meu limite e que não aguentava mais.
Olhando para trás, se calhar deveria ter ido ao médico porque tudo indicava que estava com um burnout... mas na altura senti quase que se fosse ao médico que estava a mentir e acabei por deduzir que era só mesmo fraquinha, que não aguentava mais e que devia despedir-me e foi isso que eu fiz.
Hoje em dia vejo esta profissão de maneira completamente diferente e trato os empregados de mesa de maneira totalmente diferente... e para vocês que estão a receber um serviço, ofereçam simpatia! Podem ter a certeza que vão sentir-se mais satisfeitos no final.
Eu desde de que me lembro que tenho a ilusão de que sou especial e vou alcançar grandes coisas na minha vida... e vocês dizem “mas Shi, tu podes alcançar grandes coisas na tua vida! Basta quereres e lutar por isso”. Sim essa conversa é toda muito bonita, mas nem toda a gente está destinada para ser alguém na vida, quando digo isto de ser alguém na vida, digo pelo estereótipo de chegar ao topo de uma carreira e ganhar muito dinheiro. A maioria das pessoas para chegar a um patamar desses, ou é muito bom naquilo que faz ou simplesmente conseguiu de maneira menos honesta. Mas o facto, é que grande parte de nós não é especial e se não metermos os pés no chão, existe uma probabilidade de acabarmos por sofrer uma depressão.
Esta conversa toda é para quê? Ora eu tive de deixar de achar que era especial, que ia ser descoberta por uma empresa e ia ser uma grande designer ou um grande técnica de multimédia para me aperceber que comer faz falta, pagar as contas faz falta e a minha independência também fazia falta e decidi tentar uma profissão que muitos não consideram tão boa, tão digna. Afinal de contas a maioria das pessoas não sonha ser empregado do lixo, empregado de mesa, operador fabril ou trabalhar num call-center. Mas o facto é que estes empregos têm de existir e se todos tivéssemos grandes ambições e nos limitássemos a elas, não haveriam sequer empregos de atendimento ao público. A nossa sociedade não iria funcionar. Portanto essas profissões que consideramos menos dignas, são necessárias.
Quando decidi que precisava de um emprego para ganhar dinheiro, fosse qual fosse. Encontrei a oportunidade de ser empregada de mesa de um restaurante muito grande e famoso e aqui a miss ingenuidade, acreditava que ser empregada de mesa não tinha ciência nenhuma, que era uma coisa tão fácil como tirar o pedido, pedir o pedido e entregar o pedido na mesa. Mas não... ser empregado de mesa de facto é algo muito mais desafiante do que parece e requer mais força física e psicológica do que muitas pessoas pensam.
Havia dias em que tínhamos os turnos todos cheios e ainda tínhamos pessoas à fila e acontecia um problema na cozinha e estava tudo desgraçado, havia dias em que tinha de ficar na explanada, com uma farda de manga comprida num sol de 40 graus, e ter pessoas rabugentas por causa do calor e porque por algum motivo a comida não estava a sair à velocidade que eles achavam aceitável. Ser empregada de mesa é se saco de pancada, é dar a cara por quase tudo o que possa correr mal num restaurante e essas coisas de facto acontecem e nós temos de manter um sorriso na cara e tentar agilizar, para tentar manter as 20 e tal pessoas que tens no teu turno.
Apesar disto tudo eu gostei muito de trabalhar como empregada de mesa, de tal modo que cheguei a pensar que se realmente nunca conseguisse um trabalho na minha área, que poderia trabalhar nisto para o resto da vida. Os meus colegas eram fantásticos e a chefia também não ficava atrás. Havia alguns clientes habituais que eram fantásticos e outros que nem tanto... e isto durante muito tempo chegou-me para ir motivada para o trabalho. Mas depois de um ano e tal a viver esta rotina de loucos, o meu corpo começou a dar de si e depois do corpo veio a mente.
Trabalhar num restaurante implica muitas vezes fazer horários repartidos... Eu sinceramente acho que devia ser ilegal fazer horários repartidos. Onde eu trabalhava havia horário de abertura, horário repartido e horário de fecho e nós por média fazíamos uma abertura, um fecho e 3 repartidos e isto para muitos sítios onde só se tem horários repartidos era muito bom. Um restaurante poderia viver bem de horários seguidos, mas de facto se um empregador consegue-nos manter no restaurante só à hora das refeições, conseguem poupar bastante no número de empregados que precisam de contratar, mas sei por experiência que se os restaurantes só tivessem horários seguidos, não haveria falta de pessoas na restauração como há.
Para terem noção eu saia de casa pelas 10h e muitas vezes só regressava a casa pelas 2h00, isto tudo graças ao horários repartidos. Tinha pausas gigantescas à tarde e não conseguia vir a casa ou fazer nada de produtivo durante esse tempo porque estava longe de casa e se viesse cá era só o tempo dos transportes e ainda voltava mais cansada. Chegou a uma altura em que as vezes tinha de optar entre tomar banho ou dormir mais um bocadinho. Até que comecei a ter crises de ansiedade no trabalho, comecei a não aguentar a pressão. Um dia acordei e estava a ver tudo desfocado... tive o dia todo sem ver uma porra à frente e foi assim que tive de admitir que tinha chegado ao meu limite e que não aguentava mais.
Olhando para trás, se calhar deveria ter ido ao médico porque tudo indicava que estava com um burnout... mas na altura senti quase que se fosse ao médico que estava a mentir e acabei por deduzir que era só mesmo fraquinha, que não aguentava mais e que devia despedir-me e foi isso que eu fiz.
Hoje em dia vejo esta profissão de maneira completamente diferente e trato os empregados de mesa de maneira totalmente diferente... e para vocês que estão a receber um serviço, ofereçam simpatia! Podem ter a certeza que vão sentir-se mais satisfeitos no final.